Queridos confrades,
Amada família redentorista.
Fráter Raul Alberti Damasceno, C.Ss.R.
Prosseguimos os estudos de nossa espiritualidade com fé, esperança e perseverança. O carisma redentorista é apaixonante e chama a cada um de nós como membros de uma comunidade viva missionária.
Fato é que nosso carisma é libertador, é livre e dinâmico. Somos comunicadores por excelência e a cada um de nós é pedido que saibamos comunicar de modo claro a Copiosa Redenção.
Neste artigo, de modo muito objetivo e breve trataremos do segundo pilar do carisma que herdamos de Afonso de Ligório: a Cruz, no qual Jesus Cristo foi todo entregue pela humanidade. Através de sua paixão deu-se a redenção. Este é o ponto central de nossa espiritualidade porque, para Santo Afonso, tudo que foi feito, o que somos e a própria encarnação de Jesus no seio da Virgem Maria deu-se cominado através da crucificação.
Para tanto, voltemos rapidamente ao contexto histórico no qual viveu Afonso, a cidade de Nápoles do século XVIII. Entre tantas linhas espirituais, existia uma forte corrente chamada jansenismo, uma espiritualidade rigorista, extremista, excludente.
Para os jansenistas, Jesus era um severo juiz, cuja morte salvou poucos escolhidos; o mundo para o jansenista era mau e depravado; eram rigoristas com práticas penitenciais e pregavam que a comunhão era reservada para pouquíssimas pessoas, cuja santidade fosse rigorosamente comprovada.
Mas Afonso não pensava assim e ousou questionar essa linha espiritual maléfica e mesquinha. Para ele, Deus quer que todos, sem exceção, sejam salvos em Cristo, pelo amor apaixonado de Jesus pela humanidade pecadora. A chave de leitura da espiritualidade alfonsiana é o amor: o amor de Deus pelo homem e do esforço do homem, reconhecendo este amor, em amar a Deus.
Santo Afonso vê a encarnação como possibilidade de redenção, de cura amorosa para o ser humano machucado. Deus não enviou seu Filho Jesus para pagar pelos nossos pecados, mas para ensinar-nos o amor incondicional a Deus, esse sim capaz de nos resgatar das torpezas humanas. Na liberdade e no amor, Jesus se oferece ao extremo, para que seja extrema nossa vontade de estar mais perto de Deus.
O sofrimento de Jesus é visto como ato de 'apaixonamento' radical; a loucura da cruz é a loucura do amor. Ao sofrer, nos ensina Afonso, Jesus Cristo quer provocar em nós uma resposta rápida de amor, que cura e aplaca o sofrimento. Esta resposta, entretanto, é sempre pessoal. E a oração é sinal claro de que há desejo sincero de estar em Cristo. Daí a afirmação lapidar de Afonso: “Quem reza, se salva; quem não reza, se condena”.
A Redenção nasce no interior da pessoa e extravasa em missão. Não há missão ou pastoral redimida; há homens e mulheres que, buscando a redenção, produzem ações redentoras ao seu redor. Para Afonso a redenção é visceral, amorosa, libertadora. Ele não se converteu ao Cristianismo, mas converteu-se a Jesus Cristo. A espiritualidade redentorista e nosso amor pela redenção nasceu antes do coração do que da razão.
Os redentoristas, herdeiros espirituais de Santo Afonso, têm obrigação radical de abrir-se à pluralidade cultural da redenção. Estamos em todo o mundo, em modos diferentes de entender a vida e, em todos eles, o sentido de redenção será único. Os Redentoristas são chamados a jamais sucumbir diante do mal real do mundo, e ao mesmo tempo devem ter a consciência de que o mal jamais será eliminado pela evangelização da Igreja, por mais perfeita que ela possa ser. A redenção definitiva e plena é de Jesus Cristo e Nele somente!
Um abraço fraterno a todos que continuam nos acompanhando neste caminho de estudos.
Dicionário de Espiritualidade Redentorista - Tradução de Pe. José Raimundo Vidigal, CSsR.